domingo, 29 de julho de 2007

oi e

Se lembra do céu de abril?
Do cheiro das flores e do luar de abril?
Dos jambos roubados,
E dos ossos quase quebrados por um fio?

Sim, se lembra não precisava perguntar.
Até porque não faz pouco tempo que abril passou.
Estamos em setembro, beira-mar
Lembrando do mês que nunca mais voltou.

Meses sempre voltam, mas nunca voltam os mesmos.
São como dias. Sem programações, sem supresas.
Se fossem voltar, os meses seriam um único dia infinito
Passando o tempo graças as alegrias e tristezas

quinta-feira, 26 de julho de 2007

[...]

Como todo mundo sabe, a morte é inevitável.
O problema é que Seu Arnaldo não sabia,
e aos 87 anos na porta da padaria,
chega a Dona Morte, feia que ardia.

Ao ser informado de que ela o iria buscar,
O velho fica logo zangado dizendo que ainda tem o que viver.
Ela não sabe o que e vai logo perguntar,
e ele lhe diz: "Quem é você pra eu saber do que vou fazer?"

-Mas, Seu Arnaldo, eu sou uma ceifadora,
tenho que lhe levar pois este é meu trabalho.
Além do mais, o senhor foi um homem bom,
e pra essa gente, no céu tem até baralho.

Seu Arnaldo ficou todo entusiasmado!
Todos seus companheiros de jogo tinham morrido,
Mas uma coisa o deixou contrariado,
Quem garante que a Morte não estava mentindo?

-Mas Seu Arnaldo, deixe de complicações,
O que mais o que o senhor quer?
Não tem mais tarefas, amigos
já perdeu até sua mulher.

-Como a senhora mesmo disse,
eu sou um já um velho que não serve pra mais nada
Já vivi demais com essa gente,
minha vida tá enjoada.

O que eu quero lhe dizer
é que a senhora pode me levar,
Eu só quis passar um tempo
pra ter alguém pra conversar.

(Sem ninguém pra prosear)




segunda-feira, 23 de julho de 2007

Para Dona Autinha,

Não há palavras, não há carícias.
Não há vigor, nem cansaço.
Não há maior sacerdote no mundo inteiro,
Que me faça lembrar teu abraço.

Tão silenciosa, que os seus passos eram calados
por batidas de moedas em seus vestidos floridos.
Carinhosa e cuidadosa com todos seus netos,
e pra eles não negava um pedido.

Amável pra sua cidade, perfeita para sua prole.
Comida melhor não tinha.
Nas festas da família, só tinha um lugar:
A cozinha de Dona Autinha.

Depois de todo esse tempo,
Me lembrei da história que a senhora contava,
A história do boi fujão,
Que fugiu e a cidade não mais acreditava.

Pois é assim que me sinto.
Me sinto como a cidade,
e sinto que o boi que vêm atrás dela
é a saudade.







quinta-feira, 19 de julho de 2007

salvem-se

Há salvação no verão.
Naquela chuva rápida ao meio-dia, quase como um troféu
P'ras pessoas que tocam o mais quente chão do sertão,
E assim, mesmo se estiverem com fome, estão no céu.
E o céu pra eles é a salvação.

Há salvação no ar.
Nos dias tristes em que o sol não quer nascer.
Quem há então de trazer solução
Ao ser depois de, no ar, tirarem seu coração?
É quando tudo acaba sem salvação.

Há solução na vida.
Para muitos a sorte de poderem mudá-la,
Para outros a morte, de não terem a sorte alcançada
Ou será que só em viver, você se salva?

O que sabem os vivos. ( ? )

quarta-feira, 18 de julho de 2007

ox ox ox

Se o meu coração, por razão da razão parasse,
E o teu, que bate junto com o meu, chorasse
Partirias antes de eu pra ti cantar?

Se sua razão, em razão do meu amor, sumisse,
E a minha, junto com a sua fugisse,
Continuaríamos a pensar aquela mesma tolice?

Se a poesia não mais fluir,
se a minha razão pensar em fugir,
se o meu coração parar de pulsar e sumir,
se o meu corpo que aqui me sustenta cair,

como eu iria te ver sorrir?

Queria te ver sorrir (só em ver já bastava)



segunda-feira, 16 de julho de 2007

regresso

O que não pode voltar

Não deve seguir,
Não pode partir,
Não consegue sair.

Não deve falar,
Nem se animar,
Muito menos acalentar o coração
de alguém que com saudade ficou.

Não pode sorrir,
Nem ser visto,
Não pode viver,
pois já deve ter morrido.

Até.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

armazém

Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço,
mas dois corações, pra exercerem suas funções,
Se unem tal como pontas de um laço.